Ritmo menor da economia estimula defensores do crescimento a pedir nova redução dos juros
Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual
Quadros mostram a evolução da Selic. À esquerda, as taxas de juros nos meses de outubro. À direita, os percentuais desde o início de 2011
São Paulo – Os sinais de redução da velocidade da economia e recentes declarações do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, animam os críticos da taxa de juros brasileira a fazer mais barulho pela redução da Selic. Na próxima quarta-feira (19), no segundo e último dia de reunião, os oito integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidem a taxa para os próximos 45 dias, e a expectativa quase unânime é de nova redução, a exemplo do que aconteceu em setembro. Alguns viram nessa medida uma virada de rumos na política monetária. Tombini diz que o BC está onde sempre esteve. Outros querem acelerar a queda dos juros, argumentando que a economia já exibe uma falta de fôlego que pode ser considerada preocupante.
Se o ano terminasse em agosto, a economia brasileira teria crescido 4,07% em 12 meses, aponta o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) divulgado na última quinta-feira (13) pelo BC. Como o ano continua, a expectativa é de que a variação do Produto Interno Bruto (PIB) termine abaixo dos 4%. De janeiro a agosto, o crescimento atingiu 3,43%. Apenas em agosto, a variação foi de -0,53% ante julho e de 2,02% sobre igual mês do ano anterior.
Na última edição do boletim semanal Focus, também do BC, a previsão do mercado para o crescimento do PIB deste ano ficou em 3,5%. Para 2012, a expectativa é de expansão de 3,7%.
Em agosto, pelo último dado disponível no IBGE, as vendas no comércio recuaram 0,4% ante julho, no segundo resultado negativo do ano, interrompendo três meses de alta. No mesmo período de 2010, as vendas cresceram 2%. A expansão este ano chega a 12,3%, ante 14,3% no período janeiro-agosto do ano passado. A desaceleração não é tão forte no acumulado, mas em agosto só dois dos dez setores pesquisados tiveram resultado positivo.
Emprego
Na indústria, a Fiesp informou na semana passada que o setor eliminou 6 mil vagas em setembro e deve terminar 2011 com saldo zero – no ano, até agora, são 100 mil vagas criadas. A entidade previa crescimento de 3,4% no início do ano, após a alta recorde de 4,7% em 2010. Os resultados das pesquisas de emprego ainda mostram um mercado de trabalho aquecido, mas em ritmo menor.
Esses e outros indicadores levaram a nova rearticulação entre representantes do capital e do trabalho, incluindo CUT e Força Sindical, metalúrgicos do ABC e de São Paulo, Fiesp e Abimaq (indústria de máquinas). Eles farão manifestação nesta terça-feira (18), incluindo um "abraço" à sede do BC em São Paulo. "Com o aumento das incertezas no cenário econômico mundial, a proteção ao emprego e à produção nacional são fatores fundamentais para garantir a prosperidade do Brasil. As entidades acreditam que essa responsabilidade deve ser compartilhada por todos os setores da sociedade que desejam construir um país melhor", diz comunicado conjunto, que em seguida cobra a autoridade monetária: "As entidades patronais e de trabalhadores, que assinam o manifesto, têm a convicção de que reduzir as taxas de juros a níveis compatíveis com os praticados internacionalmente em países emergentes é fundamental para acelerar e sustentar o crescimento nacional, com mais justiça social e melhor distribuição de renda".
O economista Amir Khair vê duas posições em debate no atual momento econômico. Uma é a dos guardiões da inflação, representada pelo mercado financeiro, que defende a elevação dos juros para, segundo essa visão, conter a inflação crescente causada pelo excesso de demanda. A outra é defendida pelo governo, que não vê ameaça de inflação, porque a crise internacional se encarrega de manter os preços internos sob controle. Mas, entre um e outro argumento, ele detecta um falso debate. "A inflação pode subir ou cair? Pode. A crise pode reduzir os preços internacionais? Pode. E a Selic, o que tem a ver com isso. Nada, absolutamente nada", afirmou, em artigo para o site Carta Maior. Assim, enquanto o crescimento se dá pelo estímulo ao consumo e ao investimento, a inflação segue seu caminho próprio, conduzida pela globalização.
Mas Khair afirma que o mercado financeiro já percebeu que o BC continuará reduzindo a Selic e, por isso, faz um "verdadeiro terrorismo inflacionário" para manter elevada a taxa básica de juros. "Não vai adiantar. O governo vai reduzir a Selic. Com isso, vão sobrar recursos fiscais para ampliar as ações de governo em áreas-chaves como educação, saúde e os investimentos em infraestrutura", avalia. A preocupação do governo, segundo ele, é com o impacto da crise no nível de atividade econômica, conforme já apontam alguns dos principais indicadores. "Diante disso, o governo pretende estimular a economia e reduzir a Selic, que está inibindo os investimentos das empresas e danificando o desempenho fiscal."
Moderação
O presidente do BC vê um "falso dilema" na relação entre inflação e crescimento. "Você não cresce mais porque tem mais inflação. O que ocorreu no mundo é que a inflação subiu em todos os países", declarou em entrevista recente ao jornal Folha de S.Paulo. Assim, acrescenta, não se trata de tolerar a inflação. Sobre a redução dos juros na última reunião (meio ponto percentual, para 12% ao ano), ele diz que o BC não fez uma aposta. "Quem faz aposta são os agentes de mercado", afirmou. Segundo Tombini, o "plano de voo" do BC era moderar o crescimento da economia. "Há sinais cada vez mais nítidos de que essa moderação veio." O tal mercado aposta majoritariamente em nova redução de meio ponto, mas há palpites de corte de 0,75 e até de um ponto.
O economista Jorge Mattoso, do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), viu no último corte do Copom "uma postura proativa" e um possível sinal de mudança de atitude. "Talvez tenha sido a primeira demonstração de um BC independente face ao sistema financeiro privado", analisa, em artigo para a revista Teoria e Debate. "Mas esse processo precisa continuar, se quisermos deixar para trás nossa primazia mundial em elevadas taxas de juros."
Integram o Copom o presidente do BC e os sete diretores da instituição. O primeiro dia é dedicado a exposições sobre a conjuntura, com temas como inflação, atividade econômica, câmbio, reservas, situação internacional. A votação fica para o segundo dia de reunião. O resultado da reunião desta semana acrescentará ingredientes à disputa que, no fundo, se trava entre o crescimento da economia, com distribuição de renda, e o acúmulo de riqueza via especulação.
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