sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Dilma: 'Nada nos fará recuar. Não direi adeus'

Em discurso na Alvorada após a cassação de seu mandato pelo Senado, Dilma afirma que as forças progressistas devem se unir e que governo Temer encontrará "a mais firme oposição que golpistas podem sofrer"
por Redação RBA publicado 31/08/2016 16:28
PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS
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Dilma Rousseff faz pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada, após resultado da sessão do impeachment no Senado
São Paulo – A presidenta eleita Dilma Rousseff fez hoje (31) seu último discurso no Palácio da Alvorada. Mesmo após a derrota política no Senado, que aprovou a cassação de seu mandato por 61 votos a 20, o tom do discurso foi de esperança. “A descrença e a mágoa são péssimas conselheiras. Não desistam da luta. Eles pensam que venceram, mas estão enganados. Sei que vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme oposição que um governo golpista pode sofrer”, disse. "É uma fraude contra a qual vamos recorrer em todas as instâncias", avisou.
Dilma reafirmou que seu vice, Michel Temer (PMDB), agora efetivado como chefe do Executivo, “não ascendeu ao poder pelo voto direto”, e que as forças que agora comandam o país “apropriaram-se do poder por meio de um golpe de estado, uma inequívoca eleição indireta, onde 61 senadores substituíram a vontade de 54 milhões de votos (…) E esse golpe não foi cometido apenas contra mim, este foi apenas o começo. O golpe vai atingir qualquer organização política progressista e democrática”, disse.
A presidenta eleita relembrou que este é o segundo golpe vivido por ela, sendo que o primeiro levou o país à ditadura civil militar (1964-1985). “O primeiro foi baseado na truculência das armas e me atingiu quando era uma jovem militante. Este segundo foi decretado por meio de uma farsa jurídica que me derruba da presidência (…) O projeto nacional progressista que represento está sendo interrompido por uma poderosa força reacionária com apoio de uma imprensa facciosa. Vão nos colocar nas mãos do imperialismo e do retrocesso social”, disse.
“Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta, sem nenhuma justificativa para isso”, disse, engrossando o discurso de que o golpe possui características conservadoras preconceituosas. “O golpe é misógino, homofóbico e machista. Eles estão impondo a cultura da intolerância, do preconceito e da violência. Falo isso aos brasileiros que durante meu governo superaram a miséria, realizaram o sonho da casa própria, entraram na universidade e deixaram de ser invisíveis aos olhos da nação”.

União e regresso

“As futuras gerações saberão que a primeira vez que uma mulher assumiu a presidência, o machismo mostrou suas veias. Mas nada nos fará recuar. Não direi adeus, e sim até daqui a pouco. Eu, a partir de agora, lutarei incansavelmente para continuar a construir um país melhor”, afirmou Dilma. Para ela, a interrupção do processo de inclusão, iniciada em 2003 com o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não é definitiva.
“Eu e Lula cantamos que ninguém deveria ter medo de ter esperança. Por mais de 13 anos realizamos com sucesso um projeto que promoveu a maior inclusão social e redução de desigualdades da história deste país. Não voltaremos para satisfazer nossos desejos ou vaidades. Voltaremos para continuar nossa jornada rumo à um Brasil onde o povo é soberano”, continuou.
Para tal regresso, a presidenta eleita afirmou esperar que  a união dos movimentos progressistas. "Para juntos lutar contra o retrocesso, contra a extinção de direitos, contra a agenda conservadora, pelo estabelecimento pleno da democracia. Saio da presidência como entrei, sem ter traído o Brasil”, disse, acrescentando: “Tenho certeza que outros virão em um futuro com um papel baseado na eleição direta. Um carinhoso abraço ao povo brasileiro, a todos aqueles que compartilham a crença na democracia e na esperança”, concluiu Dilma.

Senado aprova impeachment e Dilma é afastada da presidência

Votação final apontou 61 votos pelo impeachment e 20 contrários.
por Redação RBA publicado 31/08/2016 14:38, última modificação 31/08/2016 16:13
GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO
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Placar final da votação que destituiu Dilma Rousseff definitivamente do cargo de Presidenta eleita da República
São Paulo – Por 61 a 20, o plenário do Senado decidiu hoje (31) pelo impeachment de Dilma Rousseff. Não houve abstenção. A posse de Temer ocorrerá ainda nesta quarta-feira. O resultado foi proclamado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que comandou o julgamento do processo no Senado iniciado na quinta-feira (25).
Dilma fará uma declaração à imprensa ainda hoje. Senadores aliados da petista estão se dirigindo ao Palácio da Alvorada para acompanhar o pronunciamento da presidenta eleita.
O Senado também manteve, por 42 votos a 36, o direito de Dilma de ocupar cargos públicos. Foram registradas três abstenções. A votação deste quesito foi feita separadamente a pedido de senadores do PT, que apresentaram o requerimento logo no início do dia e que foi acatado por Lewandowski, mesmo sob protestos de aliados de Michel Temer.
Julgamento
Neste último dia da sessão que julgou o processo de afastamento da presidenta eleita, o ministro Ricardo Lewandowski leu um relatório resumido elencando provas e os principais argumentos apresentados ao longo do processo pela acusação e defesa. Quatro senadores escolhidos representado ambos os lados lados – Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pela defesa, e Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Ana Amélia (PP-RS), pela acusação – encaminharam a votação que ocorreu de forma nominal, em painel eletrônico.
Histórico
O processo de impeachment começou a tramitar no início de dezembro de 2015, quando o então presidente da Câmara dos Deputados e um dos maiores adversários políticos de Dilma, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou a peça apresentada pelos advogados Miguel Reale Jr., Janaína Paschoal e Hélio Bicudo.
No pedido, os três autores acusaram Dilma de ter cometido crime de responsabilidade fiscal e elencaram fatos de anos anteriores, mas o processo teve andamento apenas com as denúncias relativas a 2015. Na Câmara, a admissibilidade do processo foi aprovada em abril e enviado ao Senado, onde foi analisada por uma comissão especia, onde foi aprovado relatório do senador Antonio Anastasia (PMDB-MG) a favor do afastamento definitivo da presidenta.
Entre as acusações pelas quais Dilma foi julgada estão a edição de três decretos de crédito suplementares sem a autorização do Legislativo e as operações que ficaram conhecidas como pedaladas fiscais, que tratavam-se de atrasos no repasse de recursos do Tesouro aos bancos públicos responsáveis pelo pagamento de compromisso do Plano Safra.