quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Vilanova: de menino pobre e vendedor de salgadinho a sucesso no rádio


Vilanova é um daqueles exemplos de que é fundamental acreditar no próprio potencial para mudar de vida. Ter objetivos e correr atrás de todos eles. O homem que hoje é um dos principais nomes do radio do interior baiano, anda de carro importado, tem um dia-a-dia tranquilo e se impõe como dono de uma audiência invejável no rádio de Ilhéus. Nem sempre foi tão fácil assim. Já foi vendedor de salgadinhos pelas ruas de Ilhéus e auxiliar de "lambe-lambe", aqueles tradicionais fotógrafos de praça, que debaixo de um sol escaldante, confeccionavam “retratos 3x4” para emissão de documentos.

Mas foi por detrás de um balcão de padaria, um destes empregos que muitas vezes garantiu o sustento da família, que a vida de Vilanova começou a mudar. Dona Maurina, uma tia que trabalhava na limpeza diária das salas da Secretaria da Fazenda, queria vê-lo conquistando outros caminhos. Enxergava no menino algo diferente dos colegas que andavam com ele. Vilanova tinha idéias inovadoras sempre com o sentimento de que aquele menino pobre e sem muitas perspectivas poderia, um dia, "dar certo". Através de uma conversa com uma das noras do falecido radialista Tony Neto, conseguiu para ele um "emprego melhor" na Rádio Bahiana de Ilhéus. Mas não na função que um dia iria mudar a sua vida.

Vila é o que podemos dizer aquele profissional que começou de baixo e soube chegar lá. Na Bahiana sua principal tarefa era lavar o chão e dar aquele velho trato nos banheiros da emissora. Nos tempos de descanso, quando isso era possível, aí sim, exercitava o lado curioso do menino de família pobre que sonhava em um dia ser reconhecido pelo talento e pela competência. “Na rádio tinha um operador chamado Vinicius, folgado todo, que se aproveitava do fato de que eu queria aprender e me deixava nos finais de semana mexendo nas famosas carrapetas eletrônicas da rádio”, conta um orgulhoso Villanova.

Um dia, finalmente, a oportunidade tão esperada chegou. Um operador da rádio não foi trabalhar. “Tinha chegado cedo para fazer a limpeza. Então resolvi colocar a rádio no ar e comecei a tocar músicas. Quando Júnior (filho de Tony Neto) chegou, ainda se zangou comigo. Foi quando Tony Filho que apresentava um programa disse ao irmão: “Deixa o menino aí. Arranja outro boy pra rádio”. A partir daquele dia Vilanova se transformou em sonoplasta.

A dedicação foi logo recompensada. Da Bahiana para a Cultura (onde à época a audiência era muito maior) foi um pulo. E um pulo demorado. Na Cultura, Vilanova passou 12 anos como repórter, onde ganhou experiência, respeito e destaque. Um dia descobriu que, ali, tinha também chegado ao topo. “Não tinha mais pra onde ir na emissora. Abri mão de alguns direitos trabalhistas e fui embora”, lembra. Passou um período na rádio Santa Cruz, foi correspondente das rádios Bahia e Sociedade de Salvador, até voltar para a Bahiana, já numa condição muito mais confortável.

Alugou um horário - das 4 da tarde – com o colega Marinho Santos e juntos colocaram no ar um dos programas de maior audência da história do rádio ilheense: o Força Livre. Com o sucesso do primeiro programa totalmente policial da cidade, resolveu alugar também o horário das sete da manhã e colocar no ar o programa O Tabuleiro, com informações de política e participação dos ouvintes num formato bem simples, com a linguagem acessível a todos.

A fórmula deu certo. Prova disso é o sucesso atual do ex-vendedor de salgadinhos que ganhou respeito e audiência na cidade. Nesta entrevista, que abre uma série de encontros do Jornal Bahia Online com profissionais de comunicação do eixo Ilhéus-Itabuna, Vilanova, agora consolidado na FM Conquista, fala sobre o poder do rádio, audiência e, claro, política. Solta os cachorros na Câmara de Ilhéus, que considera uma das piores da história do município e diz que o prefeito Newton Lima precisa ter mais pulso. Vale a pena conferir.


A Conquista FM começou bem pequena, cresceu e hoje é uma das emissoras mais ouvidas da cidade. Que papel tem a emissora hoje no meio radiofônico de Ilhéus?

O nosso papel é como o de qualquer outra emissora: levar informação, entretenimento e prestação de serviço. Mas a nossa emissora tem obrigação de ir além, pelo fato de ser uma emissora comunitária e cumprirmos rigorosamente esse papel. Ao longo dos anos, temos desenvolvido diversas campanhas sociais e comunitárias. Por isso crescemos, estamos caindo no gosto da população, que enxerga em nossa emissora como um canal livre de comunicação onde podem fazer seus apelos, reivindicações e conquistar melhorias.

A sua classe é unida? Tem um fato recente que me chamou atenção. Quando surgiu a notícia de que um radialista poderia vir a assumir o comando da Assessoria de Imprensa de Ilhéus, vi mais uma reação contrária dos próprios colegas do que propriamente dos setores representativos da sociedade. Por que isso?

Bobagem de quem foi contra. Lembro que queriam até me botar no baba, como se estivesse contra o companheiro. É importante sim que o radialista assuma cargos de destaque pra que possa mostrar a sua competência. Os colegas de Ilhéus já foram mais arredios a essas coisas, mas hoje estão mais unidos. É um ou outro que ainda não entendeu que a união fortalece a classe.

"A população enxerga em nossa emissora como um canal livre de comunicação onde podem fazer seus apelos, reivindicações e conquistar melhorias."
Temos observado uma disputa não muito sadia pela audiência no rádio de Ilhéus. Briga entre colegas, agressões absurdas a profissionais. Qual sua opinião sobre isso?

Não consigo ver essa briga entre colegas que você se refere. O que observo são dois rapazes que vieram de Itabuna a serviço de políticos que estão tentando denegrir a imagem de algumas pessoas em Ilhéus, inclusive do companheiro Rildo Mota, que na minha avaliação tem se comportado muito bem diante da situação. Soube que já está tomando providencias judiciais. Este é o caminho. Não dá pra ficar trocando farpas no microfone, a qualidade do rádio cai muito e só os profissionais do microfone perdem com isso.

Comenta-se que você é um dos donos da Conquista FM...

Comenta-se tudo, amigo. A Conquista FM é uma emissora comunitária, pertence a Associação Comunitária de Ilhéus, portanto a rádio não tem dono, ela é de todos nós, é da sociedade. O que faço é colaborar com a administração ao lado do Pastor Adilson Neves, o diretor da emissora.

"Não dá pra ficar trocando farpas no microfone, a qualidade do rádio cai muito e só os profissionais do microfone perdem com isso."

Nas ligações que seus ouvintes fazem para a rádio, é comum ouvir eles usarem A expressão "só você pode resolver". Você resolve? Qual é o verdadeiro papel do profissional de comunicação e qual o limite para que não se misture o papel de informar com o do "Salvador da Pátria"?

Ora, isso acontece por que o povo é carente de representantes. À época das eleições é comum candidatos pedir votos nos bairros periféricos, onde dizem que vão mandar calçar ruas, construir escolas, implantar posto de saúde, etc. Sabemos que o parlamentar não tem a função de executar como a do prefeito. Muita gente do povo não sabe disso. Portanto se decepcionam quando as eleições passam e o vereador que prometeu calçar a rua não aparece mais. Aí é quando o povo se sente carente, liga pra a gente, faz o apelo e usa a expressão “só você pode resolver”. Isso é carência de representatividade. Mas como profissional de comunicação tenho obrigação de fazer o apelo e em muitos casos os pedidos terminam mesmo sendo resolvidos. Por isso que de vez em quando passamos a imagem de “salvador da pátria”.

O jingle de abertura do seu programa diz que você é "Valente como um cangaçeiro". Se você tivesse que comparar o microfone que você tem nas mãos a uma arma, que arma seria essa?

(Fica mais sério) Não gosto de armas, acho que no meu caso a arma mais poderosa que posso carregar é o microfone, mas que precisa ser usado com responsabilidade.
"O povo se sente carente, liga pra a gente, faz o apelo e usa a expressão “só você pode resolver”. Isso é carência de representatividade."

Durante seu programa você dá exemplos de como fazer, passa uma idéia de ser uma pessoa extremamente dinâmica, prática, objetiva. Isso, para a população, significa o perfil da pessoa que a cidade precisa para ser administrada. Você tem pretensões políticas em Ilhéus?

Nunca passou por minha cabeça ser candidato a cargo algum em Ilhéus. As eleições que tinha que disputar já disputei. Foram a do grêmio escolar na época do movimento estudantil, que me deu uma base muito sólida da política. Em relação a imagem que passo no programa é exatamente o que sou, dinâmico e prático. Sei que falar é bem mais fácil do que administrar, mas tem coisas que acontecem, principalmente na administração de Newton (Lima, prefeito de Ilhéus) que precisa de praticidade e dinamismo. Tenho projetos políticos fora de Ilhéus e são projetos que envolvem a minha esposa.

Que avaliação você faz do governo Newton Lima?

O governo tem tudo pra acertar, mas na minha avaliação muitas vezes falta pulso. Tenho observado que ele (Newton Lima, prefeito) começa a ficar refém dos vereadores que se dizem oposição. Isso é muito ruim. O governo tem alguns secretários que não têm competência para assumir determinadas secretárias e determinadas tarefas. São secretários que nem projetam nem executam. Está na hora de um choque de gestão. Um outro fator negativo da administração são secretários que torcem para o trabalho da outra secretária dar errado. Isso é torcer para o fiasco da própria administração. Falta comprometimento com a coisa pública, falta pulso do prefeito para acabar com isso.

"Sei que falar é bem mais fácil do que administrar, mas tem coisas que acontecem, principalmente na administração de Newton (Lima, prefeito de Ilhéus) que precisa de praticidade e dinamismo."

Teremos uma eleição em 2012 onde, segundo os especialistas, temos uma previsão de ter uma quantidade significativa de candidatos a prefeito de Ilhéus. Vou citar o nome de alguns pré-candidatos e gostaria de saber a sua opinião sobre eles:

Ruy Carvalho
Jabes Ribeiro
Cacá Colchões
Mário Alexandre
Alisson Mendonça
Jailson Nascimento
Raymundo Veloso
Nilton Cruz

(risos) Essa lista já foi bem maior. Não acredito que todos esses saiam candidatos, tem gente ai que não sabe nem em que partido está. Portanto é difícil fazer uma avaliação, ainda é muito cedo.

"Ao longo da minha vida no rádio descobri que o furo de reportagem não é tudo. A informação mais apurada tem mais valor."

A Câmara de Ilhéus cumpre o seu papel com eficiência?

Acho que não, tem muito oba-oba, se aproveitam da falta de pulso do executivo e acabam aparecendo em algumas situações. O verdadeiro papel de legislar, concretamente, a gente não vê nesta câmara. É uma das piores que já tivemos.

Como você vê as relações entre Câmara e Prefeitura. Elas são benéficas para a população?

São poderes harmônicos porém independentes e a boa relação poderia ser benéfica para a população. Mas o que observo é uma relação promíscua de muita ameaça e chantagens. Esse tipo de relação não é bom para a população, o povo não ganha com isso.

"O verdadeiro papel de legislar, concretamente, a gente não vê nesta Câmara. É uma das piores que já tivemos."

Operação Vassoura-de-bruxa: você não fala muito a respeito deste assunto. Por que?

Falta mais informação por parte da Polícia Federal. O que existe é muita especulação e mentira por parte de alguns, para tirar proveito político da crise. Ao longo da minha vida no rádio descobri que o furo de reportagem não é tudo. A informação mais apurada tem mais valor. Quando tenho informações concretas da Vassoura-de-bruxa divulgo. Se não tenho, não faço balão de ensaio, pois não estou a serviço de político algum.

Para encerrar. Vilanova por Vilanova. Como você se auto-define como profissional e cidadão?

Penso que com o que faço, exerço o meu papel de profissional. Ao mesmo tempo, como cidadão que tem verdadeira paixão por esta cidade, acredito no seu crescimento e desenvolvimento. Eu faço o meu papel, me sinto realizado.

Jornal Bahia Online

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