quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Natura e Globo contra o Porto Sul

“DE UM LADO ESSE CARNAVAL. DO OUTRO, A FOME TOTAL”

Eles são endinheirados e têm mansões entre Serra Grande e Itacaré. Alguns
têm projetos para grandes resorts e campos de golfe na APA da Lagoa
Encantada. Não se interessam propriamente pela manutenção de espécies
nativas da flora e da fauna deste bioma, mas exclusivamente com a fruição
pedante da bela paisagem. De nariz empinado, como lhes apraz.

Os ricaços – o dono da empresa Natura, Guilherme Leal, e o presidente das
Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, estão entre eles – moram na
região Sudeste e têm o privilégio de possuir mansões no sul da Bahia,
destinadas ao seu descanso e lazer. Frequentam a região em finais de semana,
chegando em seus jatinhos particulares e saindo rapidamente do aeroporto de
Ilhéus em carros de vidro fumê. Passam “voando” por Ilhéus, sem olhar nada
em volta, pois a atenção quase sempre está focada em laptops.

O que esses privilegiados conhecem da região não ultrapassa os muros de suas
mansões, mas eles estão dispostos a ditar os rumos do sul da Bahia. Para
isso, contam com um grupo de pseudo-ambientalistas, linha de frente de um
movimento que se dispõe a fulminar o projeto do Complexo Intermodal. Eles
são ricos e estão convictos de que têm poder de fogo para a empreitada.

A estratégia do Complexo do Caviar contra o Complexo Intermodal foi traçada
durante uma reunião ocorrida esta semana, naturalmente em São Paulo. Foi
comandada pelo ex-secretário do Meio Ambiente… de São Paulo e tinha umas
50 pessoas: mais de 40 paulistas, é claro, e uma meia dúzia de baianos
cooptados. Gente muito “bem-intencionada”.

Quem defende o Intermodal pode se preparar, porque vem chumbo grosso por aí.
A ofensiva tem nome de novela (“Vale Tudo”), artimanhas de novela e até
artistas de novela. Gente graduada na arte de fingir emoções e sentimentos
alheios irá se mostrar indignada com o Intermodal. Desconhecem o projeto,
seu verdadeiro impacto e a importância de que o desenvolvimento chegue ao
interior da Bahia, mas irão decorar textos comoventes, com falsas premissas,
mas com o forte apelo da preservação ambiental.

Não importa se quem vive na região apoia maciçamente o projeto. Não importa
que o órgão responsável pelo licenciamento esteja atento às questões
ambientais, tanto que solicitou novos estudos aos responsáveis pelo
empreendimento. Não importa que o projeto inclua condicionantes capazes de
garantir uma preservação que hoje efetivamente não existe. Nada importa,
para quem pretende trabalhar com a mistificação, o preconceito e
meias-verdades, transformando a vida real em enredo de ficção.

Apostam num final feliz para eles, em suas mansões nababescas, desde que a pobreza
continue como sempre esteve: do lado de fora do muro e com os papéis sempre
secundários nessa novela.

Reinaldo Leão
reinalleão@gmail.com
Nascido em Ilhéus em 1953, com formação em engenharia
civil e atualmente reside no estado do Paraná.

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