Por: João Peres, Rede Brasil Atual
Publicado em 28/12/2010
São Paulo – A Acadêmicos do Tucuruvi reforçou a segurança de sua sede, na zona norte da capital paulista, após receber mensagens eletrônicas com ofensas contra nordestinos. Até esta terça-feira (28), oito emails de cunho ofensivo chegaram à escola de samba paulistana que prepara um samba-enredo que homenageia os imigrantes nordestinos que moram na capital paulista.
Intitulado “Oxente, o que seria da gente sem essa gente? São Paulo: a capital do Nordeste”, a composição é o motivo das ameaças feitas nos últimos 15 dias. "Eu, como paulistano, tenho nojo dessa escola de samba e seu samba enredo. Assim como vários paulistas e paulistanos, repudio este enredo nojento e absurdo. Querem exaltar o Nordeste, desfilem por lá”, diz uma das mensagens. Os textos, sempre sem assinatura, têm frases como “na primeira ameaça que alguém receber de qualquer verme dessa escola de samba, a coisa vai ficar preta.”
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurou inquérito para apurar a autoria das mensagens. “O cidadão critica, mas não fala quem é. A intenção é identificar essas pessoas e ver de onde partiram esses e-mails. Claro que há uma possibilidade de que tenha saído de lan houses, e aí fica mais difícil saber a origem”, afirma Carlos Malachim, diretor jurídico da Acadêmicos do Tucuruvi.
O advogado afirma ter ficado surpreso com as ameaças, já que é normal que o carnaval paulistano fale do povo nordestino. Este ano, por exemplo, a agremiação teve como tema São Luís do Maranhão. “Essas pessoas que criticam não sabem nem o enredo, não conhecem o samba”, lamenta, acrescentando que a escola não vai mudar sua programação para o carnaval.
Esta semana, a SPTuris, responsável pela organização da festa no Sambódromo do Anhembi, também recebeu uma mensagem discriminatória que pedia que a Tucuruvi fosse impedida de desfilar. “Respondemos que não há nada no samba da Academicos do Tucuruvi que denigra a integridade do paulistano. Pelo contrário”, afirmou o diretor de turismo da SPTuris, Luiz Sales, ao site de O Estado de S. Paulo.
As mensagens de cunho antinordestino são o desfecho de um ano em que o preconceito regional voltou à tona. No dia seguinte à vitória de Dilma Rousseff, as redes sociais foram o palco de uma série de mensagens que afirmavam que os nordestinos deveriam voltar para seus estados de origem. “Nordestino não é gente, faça um favor a SP, mate um nordestino afogado”, dizia um dos posts que se tornou mais conhecido.
Na ocasião, a seccional de Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com notícia-crime contra os autores dos textos preconceituosos.
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