Vulcabras/Azaleia demite na Bahia e abre fábrica na capital indiana
A empresa ameaça deixar a Bahia e migrar para Nova Délhi, capital da Índia, deixando quase 18 mil pessoas sem emprego
Victor Longo | Redação CORREIO
A indústria de calçados na Bahia está prestes a perder boa parte do que conseguiu nos últimos dez anos. O símbolo da crise do setor é a fábrica da Vulcabras/Azaleia, localizada em Itapetinga, a 580 quilômetros de Salvador. Só nos últimos sete meses, a unidade demitiu 3 mil funcionários da região Centro-Sul do estado, segundo cálculos da prefeitura de Itapetinga.
Agora, a empresa ameaça deixar a Bahia e migrar para Nova Délhi, capital da Índia, deixando quase 18 mil pessoas sem emprego. Além da matriz, em Itapetinga, a fábrica tem filiais em outros 13 municípios baianos.
Demissões em massa: fábrica da Vulcabras, em Itapetinga, é símbolo da crise do setor de calçados baiano
“Se as autoridades brasileiras não mudarem a política econômica, toda a indústria de calçados vai acabar migrando para outros países e não seremos exceção”, admitiu ao CORREIO o presidente da Vulcabras/Azaleia, Milton Cardoso, lembrando que várias empresas brasileiras já atuam em países da Ásia e da América Central.
A fábrica na Bahia trilha o mesmo caminho da de Parobé, no Rio Grande do Sul, onde a Vulcabras fechou uma unidade, em maio passado, anunciando que a produção passaria para a Índia. A mão de obra bem mais barata do país é o principal atrativo: o salário de um operário é cerca de US$ 85, dez vezes menos que aqui.
Cardoso e outros representantes do setor têm pressionado o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pedindo prioridade à indústria na desoneração da folha de pagamento e rigor na fiscalização de calçados vindos da China.
Mudanças
Em novembro de 2010, o então gerente-geral da fábrica de Itapetinga, Lauro Saldanha, deixou o posto e mudou-se para a Índia, onde trabalha na implantação da nova planta da Vulcabras. Em seu lugar, assumiu Adair Francisco Souza, que se recusou a falar com a reportagem. O prefeito da cidade, José Carlos Moura (PT), porém, afirmou que o primeiro semestre de 2011 tem sido ruim para a empresa. “Um técnico me disse que este estava sendo o pior ano da fábrica”, relatou Moura.
Enquanto fontes de Itapetinga indicam que equipamentos da fábrica serão levados para a Índia em pouco tempo, Cardoso ressalta os problemas na unidade. “Já ultrapassamos o nosso limite de estoque e temos concedido férias coletivas frequentemente”, lamentou. Segundo ele, a unidade de Nova Délhi deve começar a funcionar nos próximos meses.
Motivos
A competição dos produtos locais com os importados de países asiáticos, especialmente da China, é apontada como o principal motivo para a crise que afeta o setor calçadista. “As medidas antidumping contra produtos chineses têm perdido efeito por conta da enorme valorização do real, e também porque há suspeita de que os produtos chineses driblem as medidas antidumping fazendo triangulação em outros países”, explicou o consultor Erno Froeder, da Plano Planejamento e Assessoria.
Froeder falou com a reportagem depois de participar da Feira Internacional da Moda em Calçados e Acessórios (Francal 2011), realizada em São Paulo até ontem. Na ocasião, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, prometeu mais rigor na fiscalização da entrada de produtos chineses no país.
O presidente executivo do Sindicato da Indústria de Calçados e Componentes do Estado da Bahia (Sindicalçados-BA), Haroldo Ferreira, não quis falar sobre as demissões na Vulcabras, mas reconheceu que a Bahia e o Brasil têm deixado de ser atraentes para o setor. “Por ser muito manufatureira, a indústria calçadista costuma migrar para onde há mão de obra mais barata”, considerou.
Incentivos
Na Bahia, a indústria calçadista teve seu boom nos anos 90. Várias fábricas vieram para cá atraídas por incentivos fiscais e pelos salários mais baixos que os do Sul do país, mas hoje se encontram ameaçadas pela possível perda desses incentivos, com o recente entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerá-los inconstitucionais.
Se o STF proibir os subsídios, a industrialização baiana poderá ser prejudicada. A possível perda tem inquietado a indústria. “Essa questão nos preocupa, porque o setor calçadista não se consolidou no estado e pode haver migração de empresas”, diz Ferreira.
Ao CORREIO, o superintendente de Desenvolvimento Econômico da Secretaria Estadual de Indústria Comércio e Mineração, Paulo Guimarães, minimizou a crise, considerando-a “localizada”. “A crise afeta mais especificamente as empresas que produzem tênis”.
Calçados em números
17 mil é o número de empregados da Vulcabras/Azaleia na Bahia, que têm situação incerta com a possível migração da indústria para Nova Délhi
3 mil trabalhadores já foram demitidos da fábrica da Vulcabras e filiais, segundo prefeitura de Itapetinga. A empresa diz que o número não chega a 2 mil
R$ 200 milhões é o valor do investimento que a Vulcabras/Azaleia já realizou na Bahia. Sem retorno, empresa ameaça migrar
Prefeitos realizam audiência
Em meados de junho, prefeitos, vereadores e lideranças políticas regionais preocupados com a possibilidade de a Vulcabras/Azaleia de Itapetinga fechar as portas, realizaram uma audiência pública na Câmara de Vereadores do município. Durante o encontro, os políticos discutiram alternativas para sensibilizar o empresariado e para abrigar os trabalhadores já demitidos.
Em maio passado, a crise do setor calçadista brasileiro foi objeto de debate na Câmara dos Deputados. Em audiência solicitada pelo deputado federal Daniel Almeida (PCdoB), trabalhadores e chefes foram colocados frente a frente para discutir as demissões.
“O encontro no Congresso definiu a criação de uma comissão de deputados para conversar com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a fim de fazê-lo atender às reivindicações do setor calçadista sobre a política econômica”, explicou o prefeito de Itapetinga, José Carlos Moura.
O tema também tem tido destaque nas sessões das câmaras de vereadores dos municípios produtores na Bahia. Entre as cidades afetadas, que possuem filiais e empregados da fábrica, estão Maiquinique, Itarantim, Itororó, Caatiba, Macarani, Potiraguá, Firmino Alves, Nova Canaã, Ibicuí, Iguaí e Itambé.
fonte: www.correio24horas.com.br/
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