Falando a sindicalistas norte-americanos, ex-presidente
ironizou o sistema financeiro: “Quando estourou a crise, o deus mercado
foi socorrido pelo diabo Estado”
Por: Paulo Donizetti, da Rede Brasil Atual
Publicado em 04/02/2013, 08:00
Última atualização às 17:23
Washington/EUA – O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva conclamou as principais centrais sindicais do mundo a
pressionar os países do G20 a rever sua conduta em relação às
conseqüências da crise econômica. Lula lembrou uma série de
decisões aprovadas pela cúpula em abril de 2009 – direcionadas ao
estímulo ao desenvolvimento sustentável e o zelo às condições
sociais e ambientais do planeta.“Se a economia é globalizada, a produção é
globalizada e os lucros são globalizados, os direitos dos
trabalhadores têm de ser globalizados também”, afirmou, no
discurso de abertura de de uma conferência promovida pelo United
Auto Workers (UAW), o sindicato dos trabalhadores no setor automobilístico e aeroespecial norte-americano.
O presidente da UAW, Bob King, afirmou ter
convidado o ex-presidente brasileiro por ter sido o único chefe de
Estado a combater os efeitos das tragédias provocadas pelo sistema
bancário a partir de 2008 nos países do mundo. “Enquanto todos
falavam em austeridade, Lula apostava em prosperidade. Por isso o
Brasil soube suportar a crise melhor que os demais, inclusive os
Estados Unidos”, disse.
Em reunião informal ocorrida horas antes da
abertura, Lula havia dito que é papel do movimento sindical se
organizar para, além de cuidar dos assuntos específicos dos
trabalhadores, promover a luta de toda a sociedade. “A luta dos trabalhadores, se for só por
salários e melhores condições de vida, chega um momento em que ela
perde a continuação. Então o trabalhador diz 'eu estou empregado,
eu tenho uma casa, eu tenho um carro, então não preciso mais
lutar’”, afirmou, conclamando as principais entidades sindicais
mundiais a se organizar para pressionar o grupo dos 20 países mais
desenvolvidos.
“O sistema financeiro não tinha direito de
fazer o que fez ao mundo”, afirmou, referindo-se ao fato de o
mercado impor seus interesses aos das pessoas, ter provocado a crise
e, agora, dizer como resolvê-la. “Quando a crise apertou, o deus
mercado foi pedir socorro ao diabo estado”, ironizou.
Lula alfinetou também a direção mundial do
grupo Renault/Nissan por estimular práticas antissindicais nas
unidades da empresa nos Estados Unidos.
“Como se pode falar em democracia e em liberdade
se não há liberdade de o trabalhador se organizar?”, criticou. O
UAW move campanha para convencer a direção da Nissan a realizar
uma eleição em sua unidade de Canton, no estado do Mississippi, para
que os funcionários possam decidir se admitem a entidade como sua
representante sindical. A Nissan rebate a campanha com ameaças de
desativar a fábrica.
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