Por Kátia Gerab Baggio, no blog Viomundo:
Manchetes na “grande” mídia, dos dias 01 e 02 de janeiro, anunciam que a presidente Dilma vetou, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2016, o artigo que previa um reajuste de todos os benefícios do Bolsa Família pela inflação acumulada desde maio de 2014, data do último reajuste. A medida representaria uma elevação nos benefícios de cerca de 16%.
Esta é a mesma mídia que, de um modo geral, criticou a decisão do governo federal de reajustar o salário mínimo pouco acima da inflação, mantendo a política de valorização implementada nos governos Lula e Dilma.
Líderes dos partidos de oposição à direita, como o senador Aécio Neves (PSDB) e o deputado Mendonça Filho (DEM), criticaram o veto ao reajuste do Bolsa Família, em nome dos mais necessitados.
Sabemos muitíssimo bem o quanto esses partidos, PSDB e DEM, e seus líderes “priorizaram” os mais necessitados ao longo de suas trajetórias políticas e nos governos liderados por eles…
Como todos também sabemos, a presidente Dilma e a ministra Tereza Campello (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS) tiveram que se empenhar para que não houvesse cortes, no orçamento de 2016, no programa Bolsa Família, conforme havia sido proposto pelo relator do orçamento no Congresso, deputado Ricardo Barros (PP-PR).
O deputado paranaense havia proposto um corte de nada menos do que R$ 10 bilhões, equivalente a cerca de 35% do orçamento total do programa para este ano que se inicia.
O argumento da presidente para o veto é que o orçamento de 2016, já aprovado pelo Congresso, não prevê os recursos para esse reajuste e que o Bolsa Família vem passando, desde 2011, por um “contínuo aperfeiçoamento e mudança estrutural”, com o objetivo de favorecer famílias em situação de extrema pobreza, que ficariam prejudicadas com um reajuste linear.
É claro que, aos beneficiários do programa, a reposição da inflação acumulada nos últimos 20 meses seria o desejável. E mesmo o defensável.
Mas, como a dotação orçamentária para o Bolsa Família é fixa, reajustar o valor dos benefícios de maneira linear significaria, na prática, ter que desligar inúmeras famílias do programa.
Como afirma o jornalista Fernando Brito (blog Tijolaço), “a tática da maldade é disfarçar-se de bondade.”
O que me enche de indignação, mais do que tudo, é a hipocrisia.
2015 foi o ano em que a hipocrisia, o cinismo e a manipulação das informações — com o objetivo de conquistar os corações e mentes dos incautos — predominaram.
As oposições e os órgãos de mídia direitistas começaram 2016 na mesma toada. Com a mesma hipocrisia e cinismo que foram disseminados em 2015.
O problema, entre outros, é que a comunicação do governo federal continua extremamente deficiente, para dizer o mínimo.
O governo federal, e o MDS em particular, têm que deixar tudo isso bem claro. Deveriam ter dado uma resposta mais rápida e contundente a essa desinformação que campeia na mídia e nas redes.
Mas a presidenta Dilma optou por publicar sua primeira mensagem aos brasileiros(as) do ano de 2016 na Folha de S. Paulo, o mesmo jornal que, no dia 13 de setembro de 2015, publicou um editorial de caráter golpista intitulado Última chance.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, deu sua primeira entrevista do ano a O Globo, o mesmo jornal que publicou, ao longo de 2015, inúmeras manchetes, fotografias e caricaturas não só extremamente negativas como agressivas, contra a presidente Dilma, o PT e líderes petistas.
Pode-se argumentar que o governo federal não pode simplesmente ignorar a “grande” mídia. Mas essa é uma mídia que se revelou completamente sem escrúpulos, sem qualquer cuidado com o rigor e o equilíbrio jornalísticos.
Uma mídia que, na minha avaliação, não merece consideração por parte da presidente, dos ministros de seu governo e dos líderes petistas.
Há, hoje, outros meios de comunicação que podem ser utilizados, sem dar a essa mídia que se comporta, com frequência, de maneira vil e inescrupulosa uma consideração que ela, absolutamente, não faz por merecer.
* Kátia Gerab Baggio é professora de História das Américas na UFMG.
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